Casa Velha

Casa Velha

- Dia cansativo hoje. – Diz Ramon a seu irmão Pablo.
- Nem se fala. Trabalhar na pedreira e ainda volta pra casa a pé não é fácil.
- O pior é ter que carregar essas picaretas nas costas.
- Nem me fale, não vejo à hora de chegar a casa e tomar um banho.
- Pablo, o que você acha de passarmos na casa velha e tomarmos banho de água encanada?
- Evita de termos que ir buscar água no rio.
- Mas e os boatos que dizem sobre casa velha? Acha que deveríamos nos arriscar?
- Aquela coisa dos assassinatos que aconteceu por lá foi há anos, você não acredita em fantasmas, espíritos ou até mesmo demônios? Você acredita?
- Não brinca com isso, já que tanto deseja ir amos, pois está escurecendo.
- Beleza. Vamos.
Ramon e Pablo eram irmãos, a vida deles foi trabalhar na pedreira, ambos extremamente fortes e bem apresentáveis. Moravam em um pequeno sitio a beira de um rio onde passava perto da casa velha e acabava no fim da pedreira com alguns quilômetros até o lago que cortava por toda cidade.
Os irmãos estavam perto da casa velha, construída no século passado, devia ter sido construído por mineiros que escavavam a mina naquela época, era ano de mil novecentos e quarenta e nove, um ano duro de revoluções onde o interior não havia sido afetado por ser tão afastado que não podia se dizer se sua existência era real.
-  Meu irmão, que casa medonha.
- É mesmo, mais fiquei sabendo que a água que cai pelo encanamento é ótima.
- Vamos, quero conhecer logo essa casa.
Cruzaram um pequeno jardim, e forçaram a porta amarrada por correntes e um grande cadeado de ferro. Tinha um grande salão até chegar às escadarias, com salas para os dois lados e um corredor tremendamente escuro que passava por traz da escada e saiam em algum lugar. Ramon colocou o pé em cima do primeiro degrau.
- A onde vai? – perguntou Pablo.
- O encanamento é lá em cima.
- Não me disse que teríamos que ir lá em cima.
- Se tem medo volte, ninguém está te impedindo.
- Vai se ferrar.
- Para de ser menininha e vamos.
Subindo bem devagar as escadas onde visivelmente seus degraus estavam podres, lentamente um pé frente ao outro seguiram em frente. O piso superior parecia ainda mais assombroso. Ao chegar no andar Pablo dá um grito e cai para traz.
- O que aconteceu? – pergunta Ramon
- Pensei em ter visto alguém no fim do corredor.
- Você está ficando maluco. É só um espelho vamos logo que ainda quero tomar banho e chegar em casa. Subindo para o segundo andar em direção a um quarto que ficava entre o encontro dos dois lados da escada, abriram a porta que era imensa e de madeira escura e maciça, forçando-a para que pudessem abrir, um forte cheiro entra em seus narizes, não sabiam que cheiro era aquele, mais a podridão não era estranha.
- Nossa que fedor.
- Que cheiro dos infernos. Agora acho que não foi uma boa ideia termos vindo. – diz Ramon.
- Agora que percebeu que não era uma boa ideia?
- Olha só esse quarto. Queria ter um desses para mim. – Olhando dentro via sua imensidão vazia, sua distribuição com as janelas que dava a lado do jardim, deveria ser a vista mais bonita que poderia existir antes de ser totalmente abandonada.
- Ei Pablo! Olha o banheiro.
Pablo seguiu em direção ao banheiro era enorme e na ponta o cano havia um chuveiro.
- Olha só que negócio invocado. Deve ser isso que chamam de chuveiro. Vamos. – Ambos tiram a roupa ficando apenas de ceroulas.
Aquilo jogava água como nunca tinham visto, estavam se deliciando com a brincadeira mais começou a faltar água e secou o chuveiro.
- Maldito seja!
- Acabou a água.
- Já aproveitamos o suficiente, vamos embora. – Diz Pablo.
Ambos se vestiam, quando Pablo para e ouve passos vindo do outro lado da parede.
- Ramon? Ramon?
- Que é?
- Fale baixo.
- Por quê?
- Tem alguém no outro cômodo.
- Como assim?
- Coloque o ouvido aqui. Encostado o ouvido ambos escutam passos no cômodo ao lado, alguns gemidos e resmungos acompanhavam seus ouvidos fazendo tremer até a espinha.
Algumas barras de ferro continuavam a cair no chão.
- Estranho?
- O que é estranho Pablo?
- Ferros caindo. Por que teria ferros caindo no outro cômodo?
- Escuta. – Ramon fez sinal para que Pablo colocasse o ouvido novamente na parede.
- O que é Ramon. – resmungou.
- Os paços estão ficando mais forte.
Como se houvesse encostado rente a parede um silencio súbito tomou conta.
- Parou?
- Sim.
Uma tremenda cacetada de ferro zune no outro cômodo fazendo com que os irmãos caíssem apavorados no chão.
- O que é isso?
Sinais começavam a aparecer de frente onde tinham colocado o ouvido.
- Vamos embora.
Ambos se levantam e saem correndo.
- Que merda é essa?
- Merda, merda.
O lugar tinha mudado totalmente aquilo parecia um inferno o lugar estava banhado em sangue.
- O meu Deus – diz Pablo.
- Vamos, por ali.
Seguiram em direção ao corredor onde acharam a escada que descia para o próximo andar.
Os barulhos de ferro caindo pelo chão, eram atordoantes.
Desceram as escadas.
- Ramon não foi aqui que subimos.
Passos e gritos ecoam no andar.
- Não vai ficar para procurar a outra vai?
- Não.
- Então venha.
Chegando ao meio da escada ambos param.
- Espera. O barulho acabou.
- Parece que sim.
De repente as vidraças são arrebentadas por pedras e novamente os gritos cada vez mais fortes.
- Desce! Desce! Desce! – gritava Pablo.
Viraram o corredor como uns loucos chegaram a próxima escada. Antes de descerem Pablo olha para traz e vê uma garota saindo da sombra, parecia estar chorando, a luz da lua mostrava metade do seu rosto. Era uma garotinha linda.
- Quem é você menina?
Ela apenas chorava e segurava uma boneca de pano com o rosto arredondado e cabelos de lã.
- Você está maluco Pablo. Não tem ninguém ai.
- Claro que tem é uma garotinha de cabelos até o ombro.
- Não tem ninguém vamos.
Pablo via a garota, e lentamente ela se aproximava, aquilo lhe dava calafrios. Com pequenos passos ela vinha se aproximando. Quando a lua iluminou completamente seu rosto metade era totalmente desfigurado via-se um dos olhos pendurados e todo arrebentado ossos e nervos podres. Aquilo revirou o estomago de Pablo.
- Corre Ramon, corre.
- Merda.
Desceram as escadas e chegaram ao corredor. O andar de baixo estava pegando fogo.
- Como foi pegar fogo aqui?
- Eu que não quero saber.
- O meu Deus! O meu Deus! – Ramon olhava os corpos que se queimavam como fogo, poderia sentir o cheiro e seus gritos de desespero.
Acharam a saída e correram até o pequeno portão. Quando olham o lugar está do jeito que chegaram.
- O que aconteceu aqui?
- Não sei. Mais nunca mais volto aqui para saber.
- Preciso fumar. Você está com meu cachimbo?
- Não o vi usar ele hoje.
- Estava no meu bolso.
- Vamos embora amanhã a gente vê isso. Ainda estou apavorado com tudo que aconteceu. Quero ir pra casa, estou tremendo.
- Mais juraria que tinha colocado no meu bolso.
Na manhã seguinte os dois irmãos descem para tomar café. Sentam-se a mesa, Pablo caçoa de seu irmão. Ambos ainda estavam tremendo com o que tinha acontecido, mais chegaram a uma conclusão de que aquilo não deveria mais ser mencionado nem ao menos ser lembrado.
- Olha aí Ramon seu cachimbo. Não tinha esquecido? – um pequeno sorriso saiu da boca de Pablo com grandes pedaços de pão dentro dela.
- Que engraçado.
- Mais você o perdeu Ramon? – Diz a mãe.
- Não olha ele aqui.
- Logo após se deitarem – diz a mãe. – uma garotinha o trouxe aqui.
- Como assim? – questiona Pablo.
- Uma mocinha de cabelos pretos não muito grande, segurava uma boneca de pano, pele branca, havia um senhor com ela, mais estava meio afastado.
- Está de brincadeira?
- Não porque estaria? Preocupei-me com ela parecia já era tarde. E ela ainda me disse que vocês estavam na casa dela. O que faziam lá? Ela disse que qualquer dia desses viria nos visitar.
A partir daquele dia nunca mais os irmãos falaram sobre aquilo. Mas a casa ainda se podia ouvir os gritos e berros durante a noite. E se aproximassem mais, nas noites de lua, a garotinha ainda cantava sua canção enquanto passeava com sua boneca.

Sobrevivente

Sobrevivente

Sobrevivente de um mundo infértil.
De uma guerra sem fim.
De mortes em vão.
Da desonra entre filhos
E da vingança entre os pais
Armas em favor da paz
Da ideologia da ingenuidade.
Do temperamento da violência
Da ignorância política.
Sou Sobrevivente de um mundo
Onde crianças seguram arma
E meninas se vendem para poderosos
De um dilema que diz:
A educação supera a fome
Enquanto crianças se prostituem
Para se educarem
Sou sobrevivente da agonia da morte
Mulheres que levam amantes no enterro do marido
Bandeiras em túmulos de mármore
Tiros em encontro da chuva
Corvos sobre cadáveres
Sobrevivente de um País sujo de lama
De um balanço que só vai para trás
Da vergonha de ser patriota
Pintamos nossas caras
Pessoas que ri da farda.
Por escrevermos sobre esperanças
De uma vitória que não conseguimos em sonhos
De uma realidade diferente
Que vemos enquanto dormimos
Sou sobrevivente de um lugar
Que conhecemos como inferno
Que esmagam nossos ossos
E contorce nossos membros
Sobrevivente da cavalaria
Queimados como heróis.
Choramos como criança
Revirando em meu túmulo.

Desespero

Desespero

Entre quatro paredes
Escondo-me no quarto escuro
Com vultos e sombras que me tormenta
Solto um grito de desespero e dor
Demônios que me assombram
Assovios em meu ouvido
Arranhões na madrugada
Pesadelos durante o dia
Vozes do além que torturam minha alma
Escuridão, somente escuridão
Inferno em meu quarto
Anjos e Demônios lutam por sangue e vinho
Por ser mais uma alma condenada
Desespero que tortura
Não me mata
Não me anima
Não me contenta
Não me alimenta
Apenas me maltrata
Nada de segunda chance
Não ouve nem a primeira
Dor
Único sentimento
Seus fantasmas me assombram
Passado
Tortura minha mente
Encolhido no canto
Olhos fechados
Chorando e gritando
Dor
Suplicio
Não existe Deus naquele momento
Somente dor
Será o purgatório?
Não contento meu desespero.
Não sei viver sem dor
Não consigo morrer em paz
Não consigo descansar em paz
Não consigo para de chorar
Não consigo rir
Não consigo conter meu Desespero...